sexta-feira, 3 de abril de 2009

Desabafo - Existe alguma maneira de não ser enganado pelo empregador?

Será que existe alguma maneira de não ser enganado(a)?

Andei me perguntando isso no caminho de volta para casa hoje, depois de uma audiência de conciliação.

Eu sou publicitária, formada, atuando como diretora de arte desde janeiro de 2008. De acordo com a convenção de 2008/2009 ocupo função técnica sendo diretora de arte. Trabalho honestamente, cumpro minhas obrigações e vou além delas sempre que necessário.

No meu último emprego ofereceram-me para trabalhar R$600,00. Eu falei não, claro. E no desespero da empresa, ela concordou me pagar R$1000,00. Se ao menos isso fosse verdade. Mas não era. Fizeram um jogo sujo comigo. E eu, muito inocente, assinei papéis discriminando que dos mil reais que eu recebia, R$670,00 era meu salário e o resto benefícios. MENTIRA.

Aí eu penso: foi ingenuidade da minha parte? Sim, com certeza. Fui burra, otária se assim puder julgar. Mas o que eu poderia ter feito? Não assinado o papel e ter sido demitida no primeiro mês? Ter reclamado e perder o emprego? Eu precisava daquele emprego, precisava do dinheiro. Não estava satisfeita nem com R$1000,00, mas eu precisava pagar minhas contas.

Assinei o papel. Esse foi meu erro. Papel esse que nem cópia eu tive. E depois da audiência, com o acordo feito, me emputeço (desculpa o termo) com minha inocência e o descaramento dos outros.

SERÁ QUE AINDA EXISTE PESSOAS HONESTAS NESSE MUNDO? OU MELHOR, EMPRESAS HONESTAS?

E O QUE EU POSSO FAZER AGORA?

Acho que nada. Mas posso evitar que aconteça de novo. Fico me perguntando como farei para entrar numa empresa se agora só aceito trabalhar com a carteira devidamente assinada, mesmo em contrato de experiência. Como eu obrigo o empregador a fazer isso no meu primeiro dia na empresa? Eles vão voltar atrás e não me contratar, claro. E como eu obrigo a me pagarem até o 5º dia útil do mês como diz a convenção? E como eu peço aumento? E como eu digo que não vou trabalhar além das atribuições do meu cargo? Como eu arrumo emprego assim? Existe?

Eu queria é brigar mais. Mas do que adiantaria? Mais dor de cabeça? Processar a empresa por não ter pago pelo menos R$827,57 do meu cargo? E como provar que esse era o meu cargo se eu não tinha nenhuma documentação de contrato? Minha palavra contra a deles. E sabemos que nesse país quem ganha são os mentirosos.

Só me resta um ódio imenso. Não pela profissão, mas pela injustiça, pela mentira e falta de ética.
Pela empresa que contrata funcionários com menor salário possível - quando não com o salário ilegal - mente e ainda por cima tem você nas mãos já que o mercado é uma guerra e qualquer vaguinha é ótima, né?

Eu exijo meus direitos. Eu exijo ética. Ética: é o que a publicidade precisa. Não só na relação chefe/funcionário como na relação peça criada/público-alvo.

E eu sei que meu desabafo é desnecessário, é inútil. O que vai mudar? Quem eu vou atingir? Que chefe por aí vai se arrepender e pagar devidamente o ex-funcionário injustiçado e prejudicado? Ninguém.

O que a gente pode fazer para legalizar essa profissão?

Por fim, iniciantes, LEIAM A CONVENÇÃO. SAIBAM DOS SEUS DIREITOS. Senão vão ficar que nem eu, numa enrascada, ganhando mal, trabalhando no pior lugar do mundo, com as piores condições de trabalho, atuando além do meu cargo... e para que? Para ter uma vaga no mercado. Será que vai ser sempre assim?

E agora, que eu li a Convenção inteira: a empresa faltou com umas 20 cláusulas/parágrafos (algumas que podem ser facilmente provadas). E agora? Existe algo que possa fazer?

MENTIROSOS. FALSÁRIOS.

3 comentários:

Unknown disse...

Desculpe, mas isso tudo não tem nada a ver com regulamentação da profissão. Regulamentada ou não, o salário com 'benefícios' vai continuar sendo feito.

O que se pode fazer é ser mais esperto que eles. Trabalhar durante um tempo, exigir depósito em conta, gravar várias vezes o recebimento e entrar na justiça. Pronto, essa empresa aí vai aprender a fazer direito.

Mas de nada adianta se apenas uma pessoa fizer.. um aqui e outro ali... Reúna-se com outros, discutam o tema, calcule se a agência tem ou não como pagar essa conta. Pense como dono, pense como funcionário. Pense nos seus direitos e também no que a empresa pensa sobre ele. Seja tão justa o quanto puder. Faça o que é do seu direito. Seja esperta. É
fácil. Difícil é ter coragem.

Aline Valek disse...

Liana, eu já havia lido no grupo Comoequetala o seu desabafo sobre a exploração que vivia no dia-a-dia de trabalho. Identifiquei-me bastante porque passei pela mesma coisa. Exigências cada vez mais criteriosas sobre o meu desempenho, cada vez menos prazo e mais trabalho, e cada vez menos respeito. Minha voz, que sempre procurava erguer na tentativa de negociar, na tentativa de buscar uma relação de trabalho transparente e honesta, pelo menos da minha parte, era sempre silenciada com argumentos pouco consistentes para quem acredita no valor humano do trabalho. Eu era máquina. E máquina não tem direito de questionar seu reconhecimento, ou sequer seus direitos básicos, como alimentação ou transporte - benefícios, que de acordo com a lógica "evoluída" dos patrões estava "embutido" nos mil reais que eu ganhava - e que na verdade não chegavam a ser o mínimo que eu merecia por exercer aquele trabalho. E o pior, Liana... Eu trabalhei seis meses nessas condições, sem carteira assinada, sem nem mesmo um contrato qualquer sem valor algum, mas que pelo menos fosse (como no seu caso) um atestado da minha ingenuidade em trabalhar tanto por tão pouco. Saí de lá sem direito a muita coisa que me seguraria caso eu não fosse uma trabalhadora CLANDESTINA, mas ainda pressiono eles diariamente para pagar o que me devem de férias e 13º proporcionais. Eles sentem na minha exigência a ameaça de um processo ou denúncia. Coisa que eu faria pelos meus amigos que ficaram lá e continuam a ser explorados, mas coisa que nem eles fariam por eles mesmos. Mas talvez a minha saída brusca, que querendo ou não foi um grande impacto para eles - agora precisam de outros dois funcionários para cumprir as minhas tarefas, os dois ganham bem menos do que eu ganhava, mas juntos ganham exatamente o valor que sempre exigi para continuar trabalhando. Que tipo de valor um humano pode dizer que tem depois de uma experiência dessas? Tudo isso por conta da selvageria de um "mercado" que acha que está nos fazendo um grande favor nos empregando em algo que sabemos fazer bem porque amamos o que fazemos? Tudo isso porque o mercado acredita que está nos fazendo um grande favor em nos oferecer qualquer coisinha, por qualquer trocado, com o argumento de "aprendizado" e "conquista de espaço"? Sinceramente, não acho que a minha dignidade valha tão pouco.
E o pior de tudo é que essa empresa onde trabalhei em criação sequer era uma agência de publicidade. As convenções da SINAPRO que me protegeriam não valem para mim. Não diante do tribunal.
Compensa ainda acreditar que é possível trabalhar numa empresa minimamente decente, que respeite o valor humano do trabalho que as constroem??
Obrigada pelas dicas, Liana!

O Achista disse...

É tenso!

Já tive um chefe que bateu no meu peito e disse: Um dia vou ter um porsche.. e vc tambem vai dirigir ele...rs
Primeira crise na empresa o cara cortou almoço de varios funcionarios, TOSCO.
Com esse chefe, eu aprendi a ver o brilho nos olhos deles quando eles mentem.
Quem vinga por nos, sao as outras empresas que crescem..essas que contam com gente escrota na diretoria, nao vingam por muito tempo. pessoas legais (talvez como vc seja), encontram empresas legais. Se você ainda nao acho, acho que deve continuar procurando!
abs
(tambem ganho uma merda e tb sou publicitario)